domingo, 25 de março de 2012

GIORGIO DE CHIRICO NO MASP

 

 

O MASP está apresentando mais de 100 obras de Giorgio de Chirico, (Vólos, Grécia, 10 de julho de 1888Roma, 20 de novembro de 1978), o mestre da pintura metafísica.

 

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Paisagens urbanas enigmáticas, de arquitetura antiga e clássica, num chão quase sempre em tons de ocre e céu luminoso em camadas verdes e amarelas. Os elementos apresentados - colunas, torres, praças, monumentos neoclássicos, chaminés de fábricas etc. – delimitam espaços vazios, um ambiente onírico.  As figuras humanas presentes demonstram um sentimento de solidão. São meio-homens, meio-estátuas, vistos de costas ou de muito longe. Dificilmente pode-se entrever rostos, apenas silhuetas e sombras projetadas pelos corpos e construções.

A pintura de Giorgio de Chirico antecipa, assim, elementos que depois aparecem na pintura surrealista.

 

 

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Portait Prémonitoire de Guillaume Apolinaire 1914

 

 

giorgio de chirico surrealismo pintura

Ettore e Andromaca, 1917

 

giorgio de chirico surrealismo pintura
L'enigma dell'ora, 1911

 

Sua estrutura artística foi inovadora para a época e, como tinha uma linguagem própria, obrigava o observador a buscar informações para compreendê-la. Por isso ele  escreveu algumas notas e ensaios sobre sua produção metafísica: “Na construção da cidade, na forma arquitetural das casas, das praças, dos jardins e das paisagens, dos portos,das estações ferroviárias, etc. estão os primeiros fundamentos de uma grande estética metafísica. Os gregos tiveram certo escrúpulo nessas construções, guiados pelo senso estético-filosófico: os pórticos, os passeios sombreados, os terraços erguidos como plateias diante dos grandes espetáculos da natureza,” definiu De Chirico, em 1919. “A tragédia da serenidade”, expressão que usou .

 

 

giorgio de chirico surrealismo pintura
Ritorno del Figlio Prodigo, 1965

 

giorgio de chirico surrealismo pintura
La nostalgia dell'infinito, 1912-1913

 

giorgio de chirico surrealismo pintura
Canto d'amore, 1914

 

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The Double Dream of Spring  January- May 1915

 

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The Metaphysical Interior    April-August 1917

 

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The Painter’s Family  1926

 

Arquitetura presente no interior dos corpos. 1968.

 

Estas e muitas outras obras de Giorgio de Chirico poderão ser vistas na exposição “De Chirico: O Sentimento da Arquitetura - Obras da Fondazione Giorgio e Isa de Chirico", Roma.


Masp, Av. Paulista, 1578, fone:11-3251-5644
Exibição: até 20 de maio de 2012..

sexta-feira, 16 de março de 2012

Rainer Maria Rilke _ Da Necessidade de Sonhar

 

 

Tem paciência com tudo não resolvido em teu coração,
e tenta amar as perguntas em ti como se fossem quartos trancados, ou livros escritos em idioma estranho.
Não pesquises em busca de respostas que não te podem ser dadas,
porque tu não as podes viver, e trata-se de viver tudo.
Vive as grandes perguntas. Agora.
Talvez num dia longínquo, sem o perceberes,
te familiarizarás com a resposta.

  

“Senhor: é mais que tempo. O verão foi muito intenso.

Lança a tua sombra sobre os relógios de sol

E por sobre as pradarias desata os teus ventos.

Ordena às últimas frutas que fiquem maduras;

Dá-lhes ainda mais uns dois dias de calor,

Leva-as à completude e não deixes de pôr

No vinho pesado sua última doçura.

Quem não tem casa, não a irá mais construir.

Quem está sozinho, vai ficá-lo ainda mais.

Insone, há de ler, escrever cartas torrenciais

E correr as aléias num inquieto ir-e-vir ,

Enquanto o vento carrega as folhas outonais”

Poemas (tradução de Paulo Paes, Companhia das Letras, 1996)

 

Pausa
Na correria da vida apressada,
Um silêncio, para fazer parar o ruído
Uma paragem, para fisgar de longe o alvo
Uma pausa, para poder pensar a vida
Uma pausa, para saborear mais
E fruir somente,
Aquilo que existe,
Aquilo que existe e é real,
Profundo, verdadeiro, autêntico
Para ganhar distância,
Sem recuar,
Sair de cena, fazer vazio
E só então prosseguir,
Por entre a memória do passado
E a miragem do futuro,
Procurar sentido
E deixar-me ir,
Apenas ir,
Pensar para agir,
Partir,
Viajar para sentir,
Fugir,
Mas sempre para depois poder regressar.

 

O Fruto

Subia, algo subia, ali, do chão,
quieto, no caule calmo, algo subia,
até que se fez flama em floração
clara e calou sua harmonia.

Floresceu, sem cessar, todo um verão
na árvore obstinada, noite e dia,
e se soube futura doação
diante do espaço que o acolhia.

E quando, enfim, se arredondou, oval,
na plenitude de sua alegria,
dentro da mesma casca que o encobria
volveu ao centro original.

(Tradução: Augusto de Campos)

 

O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa calcular e contar, mas sim crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranqüila as tempestades da primavera, sem temer que, após ela, o verão possa não vir. O verão há de vir, mas só virá para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se se diante deles estivesse a eternidade. 

 

Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas.

 

Rainer Maria Rilke nasceu em 4 de dezembro de 1875, em Praga, na República Tcheca, então pertencente ao Império Austro-Húngaro, e mudou seu nome, originalmente René, para Rainer. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico.

O encanto de sua obra perdura até nossos dias.